segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Enjaulada

Acabou. Porque a fêmea de olhos lúcidos só tinha calor no quarto, toda feita de sol. Era mulher pra compartimentos e, compartimentada, fazia-se bicho. Bichinho feliz, bichinho que ria e brilhava. Aprisionada, alegrava-se pra provocar agonias e coisas deliciosas, num cantinho perfeito pra gritar demais. Aprisionada, libertava-se de si.

Acabou Estela, que aqui fora se sentia atada, entregava o suor pra inutilidades porque precisava alimentar o quarto, a casa e o corpo. Aqui fora, ou era burocrática, ou era sozinha. E nada disso era melhor que estar acompanhada e ilógica lá dentro, guardada como um presente dos céus. Guardada feito fêmea louca, lúcida, livre, enjaulada. A loucura mais simples só é liberta em jaulas. E Estela queria mesmo era ser tomada com vigor. Menina de colo que era.