Porque foi nas pequenezas que ela se inventou mulher, e pequenamente se alimentou de ciúmes doentes e de vitórias mesquinhas: ganhou um beijo, um prêmio, a medalha na escola, o sorriso mais lindo do mundo, aprendeu a fazer crochê e a se despir bem devagar com ares de pouco caso.
Desde então, mulher pronta que era, amou direitinho e exigiu amor como uma canibal que deseja do outro a carne, o sangue e os ossos moídos. E moía os ossos, mas bem de mansinho, como se fizesse carícias e como se sentisse dor. Moendo, pedia um anel e massagens nos pés , bebia o sangue e delicadamente temperava a carne com suor, lágrimas e gozo. Ardendo, levava-o ao fogo e pedia que esfriasse um pouco, regava com choro os dias felizes e amargava na língua um gosto de morte. Rogava a Deus eternidade; ao demônio, pedia domínio. E, vestida de anjo, dominava e amava num fogo eterno, devorando para sempre a carne, o sangue e os ossos que já se tornavam pó.
As bruxas dos contos de fadas sempre foram de comer criancinhas e de maltratar donzelas. A minha era uma donzela infantil que inventava feitiços pra devorar um homem. Em chamas cintilantes de fada.
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