segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Da carne

Mas também as mulheres amam corpos, e Estela é uma das primeiras a me dizer algo assim. Estela está tão longe de ser etérea que sua solidez chega a me dar medo: nenhuma criatura real pode ser tão palpável e ter coxas tão vivas. Mas Estela é morena e ama um homem, agora eu sei: ela me contou que ama um homem que tem um corpo, um corpo que fragiliza suas coxas, delicia sua língua e bagunça seus cabelos, ela me contou que ama um homem que invade seus ouvidos com vozes infinitas e que é tão real quanto a madeira da mesa da sala, tão real quanto o vento e os tigres e a doçura quente do café que ela faz bem cedo. Estela porta a dor de um corpo e essa é toda a dor de ser bicho. E recebe outros tantos corpos porque sente pavor das manhãs doces, porque teme a brisa da tarde e a velhice já esperada de seu homem. Teme, acima de tudo, amar um corpo que definha - morre de medo de adorar quando tudo no mundo começar a repousar. Estela teme que o coração sossegue e que o trabalho de seu ventre cesse. Teme a despedida do amor, as tardes vazias. Despede-se, então, da voz corpórea de seu homem antes que ele tenha vontade de ir embora de fato. Recebe outros corpos em seu corpo. E me conta assim, sólida e risonha. Estela me faz uma inveja. Ou uma ternura.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estela é adorável... absolutamente adorável... e você?

Thais disse...

Ai, Carla ...

Que coisa! rs