sábado, 8 de setembro de 2007

Dos galopes

Pois na cortina desenhavam-se os gritos de Estela, gritos galopantes, arfantes, gritos janela afora, cidade adentro, estilhaçando ouvidos entediados de tardes comuns, ecoando desejos de adoráveis meninas honradas que também almejavam fazer amor à tarde espalhando impurezas doces pelo ar cinzento. Estela era a mulher sonhada pelas moças de fitas vermelhas, fêmeas delicadas e vorazes que guardavam em si cores de verão e cheiros de orquídeas, era um urro de amor e fantasia, Estela era vida, e era amante, e pedia ao seu homem mais um pouco de pecado, mais um pouco de santidade - não porque acreditasse em pecado ou em santidade, mas porque, primitiva que era, adorava brincar com as invenções modernas, e brincava toda cheia de pureza e alegria, toda plena de carne e vigor. Estela, as moças de fita vermelha e o silenciar brutal das vozes muito humanas: porque era uma tarde quente feita para que os gritos proibidos rachassem os pudores e inventassem o amor.

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