terça-feira, 25 de setembro de 2007

Rastreando

Estela conhecia os rastros dele: cheiravam a qualquer coisa misteriosa que deixava saudades antecipadas. Estela já havia sido menina e, na timidez de existir, já havia guardado no coração todos aqueles gritos que a sufocavam ventre abaixo. Era de não apagar completamente a menina que Estela ainda conseguia fazer chover em segredo no quarto: e chovia cinza. E, quando se esquecia de que o puro e simples balanço de quadris era sexo vivo, agarrava-se às imagens da TV e suspirava sozinha por não ter vida de filme e corpo de estrela. Eu caminharia ao lado de Estela pra contar a ela aquilo que foi esquecido, mas isso não adiantaria: em dias assim, Estela é menina e mulher no sentido duro e opaco do termos - e se veste de flores pra esconder a carne. E naquele dia aspirava os odores da poeira dele, precisava dele, de flores e de chuva fina. Cabia perfeitinha num colo feito pra dormir.

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